Tios Sombrios é um romance aparentemente memorialista. Como tudo o que Lina Lorenzini escreveu, há um toque semibiográfico nele. Mas a obra vai bem além dessa dissecação familiar, em memórias que podem ser apenas versões ou visões, onde se cava cada vez mais fundo até se encontrar, em vez de pepitas, apenas os pedregulhos que incomodam o nosso caminhar, até serem extraídos à custa de alguma dor, e uma dor que não pode ser compartilhada com ninguém. Dor leve, que com o tempo vai se transformando em calo incômodo e costumeiro, até nos habituarmos a ele e o esquecermos. Crimes que o tempo transforma em piada. Paixões que poderiam ter dado certo, se não houvessem desencontros... Jogo lúdico, em que os fatos vão se enroscando mais que se desenrolando, até desaguar na questão da criação e autoria literária: quem, de fato, é o autor do livro? Quem, afinal, desfia a trama? Aqueles personagens realmente existiram ou tudo foi mera imaginação de uma escritora delirante ou de um escritor frustrado?