Esse livro tem como eixo central a articulação entre o problema do ciclo repetitivo da violência contra a mulher, as políticas públicas e a psicanálise. Tanto as pesquisas acadêmicas, como as Políticas Públicas a respeito da violência contra a mulher, apontam o chamado ciclo da violência, que aparece nesse contexto como um problema de difícil resolução, indicando que essa questão, deixa de ser um problema privado e passa a ser um problema público. Apesar da dificuldade apresentada por essas mulheres em mudarem o seu padrão de comportamento, as Políticas Públicas vêm propondo o serviço de atendimento psicológico priorizando a psicoeducação, a conscientização do problema e o empoderamento, apresentando-se carente de intervenções da psicologia clínica. O percurso da autora permitiu o reconhecimento do progresso da rede pública no enfrentamento à violência, entretanto é crucial mantermos a posição de avanço no campo da intervenção. Sendo assim, o texto sustenta que a intervenção clínica merece atenção especial na tática ao enfrentamento, confiando que a psicanálise possa contribuir ao propor que esse ciclo da violência seja escutado como um novo caminho a partir do conceito próprio de repetição, indicando os fundamentos pelos quais interessa ao psicanalista aquilo que se repete, apontando uma possível direção para um tratamento: a repetição como dado clínico. Ciente da relevância desse problema, o livro propõe estratégias de inserção da clínica psicanalítica para que possamos avançar no tratamento do ciclo da violência, a partir da escuta do sofrimento singular, contribuindo com outros profissionais na rede de atenção à mulher em situação de violência. Para isso, a partir da teoria psicanalítica, discute-se inicialmente o conceito de repetição, apontando a lógica do funcionamento inconsciente que sustenta/funda nossos comportamentos, enfatizando a repetição como evidência de um funcionamento psíquico próprio de cada mulher. Apresenta-se a noção psicanalítica de responsabilização, diferenciando-a de culpabilização, apontando os efeitos da implicação de cada sujeito em sua queixa e seu sintoma, indicando a importância em investigarmos o tipo de relação que cada mulher estabelece, não apenas com a situação violenta como acontecimento, mas com o ciclo da repetição como experiência. Conclui-se que ao vivenciarmos de modo sadio a experiência da responsabilização, temos a chance de decidir sobre determinada situação, implicando-nos em nossas escolhas e nas consequências decorrentes dessas. Conclui-se ainda a relevância do atendimento transdisciplinar, considerando as diferentes áreas de saber envolvidas, incluindo o saber da mulher e outras pessoas envolvidas em cada situação, oferecendo à essas mulheres um espaço de fala, por meio da clínica, onde possam ser escutadas em sua experiência singular e assim posicionar-se subjetivamente, na direção do rompimento do ciclo da violência, emergindo como autoras de sua própria história. 10