Espelho de Engano : por Irena LeikantoO mundo começou a rachar quando percebi que as equações não sustentavam o chão. Nem a água, nem a luz, nem a minha própria sombra. Eu calculava vazões, forças, resistências. Mas o que me escapava... era o que me definia.Na Coreia, entre curvas de concreto e madrugadas geladas, os dados começaram a se comportar como lembranças. O solo cedia em silêncio. E eu também. Era como se alguém já tivesse escrito tudo - até a minha dúvida.Fui dissolvendo devagar. Não em dor, mas em ausência. Me tornei presença que observa. Matéria que já não pesa.Ele, o homem que me amou sem medidas, às vezes vai ao rio. O mesmo rio. Senta na margem, fuma sem nunca ter fumado antes. Repete uma palavra que ninguém entende. Mas eu escuto.A física ensinou que tudo o que cai... já caiu antes. Que o acaso é só uma curva invisível. E que o 'eu' que pensamos ser é só um reflexo do reflexo do reflexo.Se um dia você esquecer seu nome ou sentir que algo dentro já não responde, talvez esteja só atravessando o vidro. Não se assuste. É natural.