Neste livro, descrevemos a gramática das realizações africadas alveopalatais [??] e [??] no português faladopor sergipanos com idade igual ou acima de 60 anos: nessa variedade do português, as realizações africadas[??] e [??] estão restritas a alguns itens lexicais de natureza onomatopaica e antroponímica e a contextos emque o aproximante palatal adjacente [?] de ditongo dos tipos vogal+[?] e [?]+vogal é esperado. Nossotratamento quantitativo (estatístico/probabilístico) com o software R demonstrou que, embora em variaçãocom suas contrapartes oclusivas (dento)alveolares plenas [?] e [?] e africada alveolar [??] nos referidoscontextos de ditongo, as africadas alvopalatais ([??] e [??]) são quase categóricas, predominando em 94%dos dados da nossa pesquisa. Evidências acústicas apontam uma correlação sistemática entre monotongação ou o apagamento do aproximante palatal [?] adjacente (precedente ou seguinte) dos decursos vogal+[?] e[?]+vogal e as realizações africadas alveopalatais ([??] e [??]). Constatamos que, tanto nos itens lexicaisde natureza onomatopaica e antroponímica quanto nos contextos em que o aproximante palatal [?] éapagado da superfície, as africadas [??] e [??] têm potencialidades contrastivas (fonêmicas/fonológicas) noléxico dessa variedade. A partir dessas constatações, levantamos a hipótese de que essas restrições fazemparte de uma gramática das africadas ([??] e [??]) que tem a propriedade de preservar o léxico. A regrageneralizante dessa gramática pode, pois, ser deduzida nos seguintes termos: as realizações africadasalveopalatais [??] e [??] se restringem a alguns itens lexicais de natureza onomatopaica e antroponímica e acontextos nos quais o gatilho ([?]) que dispara a regra (africação) da qual [??] e [??] resultam pode serapagado logo em seguida. À luz da Fonologia Autossegmental, tal como documentada em Goldsmith(1995), nos itens lexicais em que o gatilho ([?]) do processo do qual resulta não figura na adjacência,estamos interpretando a realização [??] como africada plena e, por conseguinte, segmento de contorno([??]); já em contextos em que o aproximante palatal [?] de ditongo (incluindo aqueles que podem ocorrerpor inserção (epêntese) desse aproximante palatal [?]) dos tipos vogal+[?] e [?]+vogal é esperado, entendemos que essas realizações africadas podem ser interpretados como segmentos complexos ([??] e[??]) ou de contorno ([??] e [??]), resultantes de um único processo espraiamento bidirecional de traçosdo aproximante palatal [?] esperado que gera uma articulação [palatal] menor/secundária ([?]) ou umsegmento fonético fricativo [palatal] ([?] ou [?]) intruso. Nos termos da Fonética Articulatória (BARBOSA;MADUREIRA, 2015), essa interpretação é compatível com coarticulação preservatória ou antecipatória detraços do aproximante [?]. À luz da Fonética Acústica tal como documentada em Ladefoged e Maddieson(1996), Ladefoged (2001), Ladefoged e Johnson (2011), Barbosa e Madureira (2015) e Kent e Read (2015) trata-se de um segmento em duas fases (oclusão e fricção) sucessivas. Com os recursos do softwarePRAAT, testamos nossa hipótese de a interação do apagamento do aproximante palatal [?] com a africaçãoalveopalatal de /?/ e /?/ coincidir com um alongamento compensatório dos segmentos africados [??] e [??]adjacentes. Concluímos que as restrições dessa gramática se justificam pela correlação do traço [palatal] doaproximante [?] com [??] e [??] e pelas potencialidades contrastivas (fonêmicas/fonológicas) destasafricadas na variedade do português falado pelos sergipanos idosos. O produto final desta tese dá asdimensões qualitativa e quantitativa à pesquisa que lhe dá ensejo.Palavras-chave: Africada (Fonética). Fonologia. Fala. Idosos. Sergipe 10